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O Voo da Razão pelo artista Leonardo Luna (leodaluna@hotmail.com):
ARTIGO
Entre a loucura do asilo e a loucura das ruas
Por ANTÔNIO JORDÃO*
O processo de reforma psiquiátrica é complexo e profundo. Precisa articular e compartilhar todas as políticas públicas sociais: saúde, assistência social, previdência, educação, lazer e cultura, trabalho e emprego, e notadamente a família quando houver. Precisa envolver de fato a sociedade. Pessoas não são números. Nossos doentes oscilam entre duas loucuras: a loucura do asilo e a loucura do abandono nas ruas. As masmorras e a morte intra-hospitalar por desassistência, desafeto e inanição é genocídio. Crime doloso de lesa humanidade.
A retirada dos doentes do hospital também não pode ser criminosa. A reinclusão social é necessária. Porém, precisa ser monitorada, caso a caso, qual o destino e quem dará o apoio a cada paciente. Responsabilidade com nomes. Que pessoa da família o receberá e dele cuidará. Quem assegurará o suporte financeiro assistencial/previdenciário. Qual a residência terapêutica. A qual CAPS estará vinculado e qual o leito que o receberá de volta em eventual intercorrência. Os nomes dos profissionais que lhe darão cuidados. Que instância de lazer, cultura e ocupação lhe permitirá o retorno ao convívio social e lhe proporcionará a auto-estima de sentir-se importante e valorizado. E quem fiscalizará tudo isto? Para que a lógica da rehumanização não seja substituída pela lógica economicista de simplesmente cortar ainda mais custos impondo outro abandono.
A rede psicossocial não pode ser apenas figuras de retórica. Depois de montada, precisa ser mostrada. A Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) pode ter papel de destaque neste acompanhamento e evidenciação. As Câmaras de Vereadores também.
Necessário lembrar o papel da estratégia saúde da família. Certamente não é o de responder pela saúde mental. Pode substituir em sentido amplo de controle de seu território, porém, jamais será o de especialista. É importante lembrar porque os que alguns não conseguem resolver acabam querendo repassar à absurdamente sobrecarregada estratégia saúde da família. E isto é inaceitável.
Por outro lado, os leitos para agravamento e agudizações sempre existirão. Esperamos que na proporção necessária. Visitar os atuais hospitais psiquiátricos agora. E depois visitar os doentes em suas casas e espaços de recuperação. Ver antes e depois. Nos parece ser a honrosa tarefa do momento. Fazer a coisa certa dá muito trabalho, não tenhamos dúvida, mas dá resultados maravilhosos. Precisa de planejamento, recursos e, sobretudo, decisão política.
*ANTÔNIO JORDÃO é presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) – Recife/PE